quarta-feira, 4 de junho de 2008

O segredo de quem vive


‘‘Ontem senti medo de morrer. Talvez pelo sentimento de despedida que tomou conta de mim. Talvez por ter chorado no chuveiro. Talvez por ter treinado o perdão e o discurso de amor aos que estão por perto de mim. Senti que hoje não acordaria. E o que mais me doeu foi imaginar que talvez não fosse digna d acordar. Entristeceu-me a idéia de que as pessoas estariam muito ocupadas e preocupadas para pensar em minha morte.
Essa cama poderia, pela última vez sentir o meu peso.
O LP que foi preparado não seria gravado.
A roupa nova que nunca será usada.
As meias palavras não completadas.
Afinal, é a única certeza de quem vive!
Pela janela do meu quarto poderiam me jogar, se fossem altas o suficiente.
Para o chão?
Faltou-me olhar pra o céu...
Mas passa-me pela cabeça a última vez que vi determinadas pessoas. Com o rosto que as deixei, com a expressão que nelas provoquei. Perpetuar-me nas palavras rudes que dei a elas...Não! Vale a pena ser agora?
Afasto os demônios que tentam me empurrar escada a baixo, grito, peço.
Deixem! Dêem uma chance.
Então, lúcida, apalpo meus braços, meu rosto. Ao meu redor...é realidade.
Que momento foi aquele?
Respiro fundo, e o ar massageia meus pulmões, minha cabeça. E alivia-me.
É esta a realidade.’’

(Pagu)

Nenhum comentário: